O gigante pousa em Viracopos, em Campinas, na manhã da segunda, onde será carregado com um transformador de 155 toneladas que vai tirar uma cidade chilena inteira da escuridão. Segundo o aeroporto, esta será a maior carga já transportada na história da aviação brasileira e a segunda no mundo
Se você tem voo marcado para a noite de amanhã no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, reserve alguns minutos para observar as aeronaves taxiando pela pista. Entre elas estará o Antonov An-225 Mriya, o maior avião do mundo, único do seu modelo, dedicado ao transporte de cargas de grandes proporções.
O pouso do Antonov não afeta a operação regular do aeroporto, mas requer cuidados especiais. “Tivemos de redesenhar o pátio, já que a operação de carregamento deve ocupar o espaço de sete aeronaves”, explica o comandante Miguel Dau, diretor de Operações da GRU Airport, concessionária do aeroporto que em 2015 passou por obras de alargamento das pistas para receber aviões de grande porte, como o An-225 e o Airbus A380, o mvaior avião de passageiros do mundo. Sem a reforma, a única alternativa seria transportar o transformador pelo mar – as estradas dos Andes não comportariam um caminhão grande o suficiente. A operação será transmitida pelo Facebook da concessionária.
Assim como aconteceu quando a Emirates voou de Dubai para Guarulhos com o A380, a chegada do Antonov deve atrair curiosos apaixonados por aviação. Sem acesso às áreas restritas, observadores como Douglas Barbosa, de 25 anos, se encontram às margens do aeroporto para assistir ao pouso. “É um momento único, que atiça a curiosidade até de quem não é aficionado por aviação”, diz o assistente administrativo, que organiza eventos de observação pelo País e deve acompanhar o pouso do An-225 em Viracopos. “Ver o Antonov de perto vai ser surreal. Ele é o ápice da aviação. É inacreditável que algo tão grande possa voar.”
Além do Antonov, outros aviões icônicos também devem passar por Guarulhos amanhã, como o Boeing 757 da banda Guns N Roses, o trijato MD-11F, cuja versão de passageiros era usada pela Vasp em voos intercontinentais, e o também soviético Ilyushin IL-96, num voo fretado da Cubana de Aviación. “Eventos assim consolidam a imagem do aeroporto como uma opção cargueira e provam uma capacidade de flexibilidade operacional para receber qualquer tipo de operação”, explicou o comandante Dau.
Herança Soviética – Durante a Guerra Fria, enquanto os americanos transportavam o Space Challenger num Boeing 747 de 1966 e adaptado pela Nasa, os soviéticos desenvolveram seu próprio gigante para carregar o ônibus espacial Buran pelos ares. Foi aí que, em 1988, surgiu o primeiro e até hoje único exemplar do An-225 Mriya.
Após a queda da União Soviética e o cancelamento do seu programa espacial, o An-225 sucumbiu por anos em um cemitério de aviões na Ucrânia. Só em 2001 um grupo de empresários russos decidiu reformá-lo.