A seca severa que atinge o Nordeste causou um prejuízo de R$ 103,5 bilhões entre os anos de 2013 e 2015
Graças ao sistema, pela primeira vez foi possível mensurar os danos materiais causados pelos eventos naturais no país. A seca atinge o semiárido brasileiro desde 2012, com 33,4 milhões de pessoas afetadas. O levantamento aponta que todos os desastres naturais do país, entre 2013 e 2015, causaram prejuízo de R$ 173,5 bilhões. Ou seja, 60% do prejuízo no Brasil com todos os eventos extremos se concentraram pela falta de chuva no Nordeste.
Se somados aos prejuízos de outros Estados, o prejuízo com a seca foi de R$ 151 bilhões. Parte desse prejuízo fora do Nordeste se concentrou no Sudeste nos anos de 2013 e 2014, quando houve a crise hídrica. Nesses dois anos, o prejuízo na região chegou a R$ 32,5 bilhões.
O prejuízo da seca calculado no Nordeste nesses três anos é equivalente à soma do PIB (Produto Interno Bruto) de 2013 — dados mais recentes do IBGE– dos Estados de Alagoas, Piauí e Sergipe. Somadas, as riquezas desses Estados naquele ano chegaram a R$ 103 bilhões, sem correção da inflação. Na prática, é como se a economia regional perdesse a riqueza de um desses Estados por ano.
O estudo detalha os prejuízos da seca por área. O setor mais abalado foi a agricultura, no qual a perda de safra causou um prejuízo no Nordeste de R$ 74,5 bilhões. Na pecuária, foram R$ 20,4 bilhões de prejuízo com a morte e perda de valor dos animais. Já os demais prejuízos são da indústria e do poder público.
“Houve grande frustração de safra em todas as áreas do semiárido, perdeu-se grande parte do rebanho, especialmente de bovinos, não só por morte como também animais que foram vendidos por preços muito baixos para outras regiões. Houve grande perda das pastagens, uso predatório de plantas da caatinga para alimentação animal, morte inclusive de muitas espécies nativas (em determinadas áreas, essas mortes chegaram a 30% a 40% das plantas)”, diz o estudo.
Para os técnicos, a seca desta década tem uma característica diferente de outras do passado. “O que houve de diferente para as demais secas históricas de proporções semelhantes é que nesta não se observou o êxodo em massa da população de determinadas áreas ou mesmo os saques em feiras e mercados. Também não houve morte de pessoas por fome e sede. Ainda que não seja uma solução definitiva para o problema, isso se deve em grande parte às políticas de complementação de renda ora em curso no país”, destaca o documento, se referindo a programas assistenciais como o Bolsa Família.
Para o técnico Johnny Amorim, o desafio das autoridades agora é tentar achar meios de calcular o prejuízo social. “Você sabe que não se morre mais de fome e de sede, mas os problemas de saúde gerados pela falta de água ou pela água de qualidade são desconhecidos. Os governos não têm meios de fazer um levantamento até que ponto vão os prejuízos à população, como um garoto desnutrido ou que tem alguma falta de vitamina pelo consumo de água imprópria ou em escassez”, afirma o especialista da CNM.
No Nordeste, não há produtor que não tenha sentido o impacto da seca. “São cinco anos de muito pouca água. Tem gente fazendo poço, comprando carro-pipa; tem gente que ainda tem uma palma ou um capim seco para dar ao gado, quem não tem e não pode comprar vende para não ver o bicho morrer de fome”, conta Márcio Oliveira da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alcantil, no sertão paraibano (a 197 km de João Pessoa).
No sertão de Alagoas, a situação não é diferente. “Há dois anos que não consigo fazem silo para os animais. As barragens todas daqui secaram, e os animais tomam água suja de poços que estão ficando podres”, conta o pequeno criador e produtor Isaac Pita.
Entre dezembro de 2012 e dezembro de 2015, por exemplo, foram 7.371 decretações de emergência ou calamidade pública em decorrência da seca, sendo 6.295 no Nordeste.