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Apenas um quarto dos membros dos Parlamentos do mundo são mulheres

Da Nova Zelândia à Alemanha, Taiwan ou Noruega, alguns países liderados por mulheres estão vendo relativamente menos mortes pela covid-19. E estas lideranças estão sendo elogiadas na mídia e nas redes sociais por suas atitudes, bem como pelas medidas que introduziram em face da atual crise global de saúde.

As mulheres representam 70% dos profissionais de saúde em todo o mundo. Já no mundo político, em 2018, elas eram apenas dez dos 153 chefes de Estado eleitos, de acordo com a União Interparlamentar.

Embora também haja outros fatores sociais e econômicos que favoreçam estes países no enfrentamento à pandemia, analistas acreditam que as trajetórias sociais das mulheres — e não qualquer condicionamento biológico — tornem sua conduta como líderes também diferentes. Entenda o porquê.

Mas, além de ter mulheres como líderes, esses países que estão respondendo melhor à crise têm outras coisas em comum. Todos são economias desenvolvidas, com um sistema de assistência social estabelecido e alta pontuação na maioria dos indicadores de desenvolvimento humano. São países que também tendem a ter sistemas de saúde fortes, mais preparados para lidar com emergências.

Mas qual é a parcela do papel das lideranças mulheres no relativo sucesso destes países no combate ao coronavírus?

‘Tem tudo a ver com diversidade’

“Não acho que as mulheres tenham um estilo de liderança diferente do dos homens. Mas quando elas estão representadas em posições de liderança, isso traz diversidade à tomada de decisões”, diz Geeta Rao Gupta, diretora executiva do Programa 3D para Meninas e Mulheres e membro sênior da Fundação das Nações Unidas.

É um contraste com a postura explosiva e a negação a fatos científicos adotadas por alguns de seus colegas do gênero masculino, como os presidentes dos EUA e Brasil, Donald Trump e Jair Bolsonaro.

Rosie Campbell, diretora do Instituto Global para Liderança Feminina no King’s College London, concorda que “os estilos de liderança não são inerentes a homens e mulher, mas, devido à forma como somos socializados, é mais aceitável que as mulheres sejam líderes mais empáticas e colaborativas. E infelizmente há mais homens que se enquadram na categoria narcisista e hipercompetitiva”.

Ela acredita que essa característica na liderança masculina “foi exacerbada pela tendência populista na política”.

As respostas à crise da covid-19 foram obviamente diversas, em parte devido às realidades socioeconômicas de cada país e à disponibilidade de recursos — aspectos nos quais o gênero pode não ter influência.

Portanto, líderes homens que não se encaixam no estereótipo descrito por Campbell também estão vendo relativamente menos mortes em seus países.

Na Coreia do Sul, o tratamento da crise pelo presidente Moon Jae-in sustentou a vitória esmagadora de seu partido nas últimas eleições parlamentares, realizadas em 15 de abril.

O primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, também tem recebido elogios por gerenciar com sucesso a crise e manter as taxas de mortalidade relativamente baixas — 114 óbitos até 20 de abril, para uma população de cerca de 11 milhões. Em comparação, a Itália, com uma população de 60 milhões, sofreu 22 mil mortes.

A Grécia está passando pela crise priorizando o aconselhamento científico e tendo adotado medidas precoces de distanciamento social — antes que suas primeiras mortes fossem registradas.

E, por outro lado, há países liderados por mulheres em situação delicada diante do avanço rápido do vírus.

Por exemplo, a primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, conseguiu liderar a contenção do surto em um dos países mais populosos do mundo. Mas há preocupações com a capacidade limitada de testagem, além de que os profissionais de saúde de Bangladesh denunciam cada vez mais estar em risco devido à falta de equipamentos de proteção individual.

‘Decisões melhores’

Geeta Rao Gupta, que também é presidente do conselho consultivo do WomenLift Health, um programa da Fundação Bill e Melinda Gates que visa aumentar a liderança feminina no setor de saúde, pede que mais mulheres sejam colocadas em posições de liderança.

Ela defende que isso melhoraria a tomada de decisões.

“Decisões relevantes seriam tomadas considerando mais segmentos da sociedade, não apenas alguns. Porque, como mulheres, elas [líderes] experimentaram a vida em papéis e responsabilidades que são afetadas socialmente pelo gênero. Assim, suas perspectivas e decisões provavelmente serão afetadas por essas experiências”.

Gupta adverte sobre os possíveis diferentes impactos sociais e econômicos da covid-19 sobre homens e mulheres. A violência doméstica contra elas já tem aumentando em várias partes do mundo. Elas estão mais vulneráveis ao aumento da pobreza e pode haver uma reversão às tentativas recentes — e tímidas, em muitos casos — para diminuir a diferença salarial entre os gêneros.

“Estamos recuando”, diz ela. “A menos que a resposta à pandemia considere isso como fator (questões de gênero), haverá uma exacerbação dos problemas existentes.”

Informação BBC News Brasil

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