O comércio de cálculos biliares de vacas, conhecido como “ouro bovino”, é um negócio lucrativo entre a América do Sul e a China
Na verdade, as pedras já figuram no livro que é considerado o primeiro texto sobre substâncias da fitoterapia chinesa, escrito há mais de 2 mil anos. Cálculos bovinos são usados na produção de medicamentos para tratar transtornos neurológicos, como acidentes cerebrovasculares ou convulsões.
Nada mais é do que pedras geradas dentro da vesícula dos bovinos. Esses cálculos são resultados do acúmulo de sais na vesícula de alguns animais e não afetam a qualidade da carne para o consumo.
“Hoje, elas continuam em uso, mas em fórmulas específicas. A substância passa por toda uma preparação, é transformada em pó [e] em forma solúvel, em cápsulas ou comprimidos”, segundo Reginaldo Filho, presidente da Escola Brasileira de Medicina Chinesa (Ebramec).
Reginaldo Filho explica que um dos seus usos atuais se destina ao tratamento de transtornos neurológicos, como acidentes cerebrovasculares ou convulsões. E os cálculos também são empregados com fins medicinais em outros países asiáticos, como a Coreia do Sul e o Japão.
Mercado e Preços
- Preço alto: Cálculos biliares de vacas podem alcançar até US$ 20.000/kg.
- Exportação: Países como Brasil, Argentina e Uruguai exportam cálculos biliares para a China.
- Demanda chinesa: A medicina tradicional chinesa valoriza os cálculos biliares como ingrediente para tratamentos.
Processo de Coleta e Comércio
- Matadouros: Cálculos biliares são coletados em matadouros.
- Processamento: Eles são limpos, secos e classificados.
- Exportação: São enviados para a China via aérea ou marítima.
- Distribuição: São vendidos a fabricantes de medicamentos tradicionais chineses.
Uso antigo, demanda nova
Mas estas pedras de coloração amarelada ou avermelhada são escassas no mercado. Uma razão é que, como ocorre nos seres humanos, sua produção natural é pouco frequente. Estima-se que, de cada 100 vacas criadas, apenas cerca de duas produzem cálculos nas suas vesículas, muitas vezes pequenos.
Eles costumam aparecer mais em gado envelhecido, mas só são extraídas depois do abate do animal. Como os grandes produtores de carne abatem maior quantidade de vacas mais jovens, a frequência dos cálculos nos frigoríficos também é limitada.
Estima-se que a China produza cerca de uma tonelada de cálculos biliares bovinos por ano, segundo uma associação local de medicina chinesa. Mas a demanda é de cinco toneladas anuais e o país procura adquirir o restante no exterior.
“Fazer volume com cálculos biliares exige muita coleta em muito tempo – não é algo que ocupe muito volume. Na verdade, armazená-los é um problema porque, às vezes, as pessoas os levam nos bolsos e também existe um mercado ilegal.”
O Brasil é o maior fornecedor de cálculos bovinos para Hong Kong, segundo o relatório. Suas vendas triplicaram nos últimos quatro anos, atingindo US$ 148 milhões (cerca de R$ 934 milhões) em 2023. Em seguida, vêm a Austrália, Colômbia, Argentina, Estados Unidos e Paraguai. O valor cada vez maior das pedras fez também com que elas se tornassem um alvo para os assaltantes.
