Em julho, o leite subiu mais de 25% no varejo e acumulou alta de quase 80% no ano
A fase mais crítica da disparada do preço do leite, que fez do produto o vilão da inflação e diminuiu sua presença nas prateleiras dos supermercados, está ficando para trás. A queda de preços no atacado que começa a ser registrada neste mês por causa da maior oferta e também do fim do período de seca já começa a trazer um alívio para o bolso do consumidor.
Em julho, o leite subiu mais de 25% no varejo e acumulou alta de quase 80% no ano, segundo o IPCA, a medida oficial da inflação do País. Mas, desde o início de agosto até a última terça-feira, a cotação média do litro de leite no atacado de São Paulo já caiu quase 17%, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Entressafra
Segundo Oliveira, da Embrapa, esta foi uma das piores entressafras. No primeiro trimestre, a captação de leite pela indústria, que reponde pela maior fatia do mercado, foi de 5,9 bilhões de litros. É um volume 10,3% menor comparado ao do mesmo período do ano anterior.
No entanto, o quadro começou a mudar. Os preços elevados oferecidos pelas indústrias voltaram a estimular os produtores. Adicionalmente, os sinais de recessão na economia global provocaram queda nas cotações dos grãos e aliviaram custos. “Poucas vezes houve um estímulo tão forte via preço para o aumento da produção como neste meio de ano”, frisa Oliveira. Ele conta que há relatos de produtores que estão dando mais ração aos animais, a fim de obter um ou dois litros a mais de leite por dia. Essa mudança já começa a ter impacto no aumento da oferta, nos preços e na normalização do abastecimento.
Seca, pandemia e guerra encareceram a produção
O pesquisador em economia Samuel José de Magalhães Oliveira, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Gado de Leite, explica que, além da forte seca, uma combinação desfavorável de fatores levou à disparada do preço do leite. Entre eles, estão os choques de preços dos grãos usados na alimentação do gado, como milho e soja, e os lockdowns provocados pela pandemia. Também a guerra entre Rússia e Ucrânia, dois grandes produtores de grãos, encareceu ainda mais o litro de leite.
O resultado foi que os custos de produção dispararam, e o preço oferecido pelas indústrias, pressionado pelo consumo fraco no varejo, não cobriu esse aumento.
Disparada de custos
O pico da alta de custos medidos pela Embrapa ocorreu em agosto do ano passado, quando os aumentos acumulados em 12 meses chegaram a 40%, afirma o pesquisador.
Sem uma remuneração adequada, produtores descartaram matrizes e até desistiram do negócio. Esse quadro explica a alta explosiva de preços no varejo registrada até um mês atrás, com forte redução na oferta do produto nas prateleiras.