Vaticano enviou um representante ao Brasil para apurar as denúncias

As acusações de assédio sexual contra o arcebispo de Belém do Pará, dom Alberto Taveira Corrêa, que vieram à tona na última semana, podem ser o primeiro caso de abuso com grande repercussão no Brasil a ser investigado pelo Vaticano sob as novas regras anunciadas pelo Papa Francisco em dezembro de 2019 para combater a pedofilia na Igreja.

Entre as mudanças está a abolição do segredo pontifício nos inquéritos de violência sexual e de abuso de menores de idade e assistência às vítimas. Com isso, pode em teoria receber um tratamento diferente de denúncias passadas contra padres, muitas delas acobertadas pela Igreja Católica.

Dom Alberto foi acusado de assédio moral e sexual por quatro ex-seminaristas que frequentaram sua casa entre 2010 e 2014. As acusações estão sendo investigadas pela Polícia Civil, a pedido do Ministério Público do Pará.

O Vaticano, no entanto, por meio da Congregação da Doutrina da Fé, órgão competente para apurar casos de pedofilia na Igreja, não informa se existem queixas contra o religioso.

Segundo Roberto Lauria, advogado do arcebispo, disse não estar autorizado a falar com a imprensa por ter uma cláusula de confidencialidade com a arquidiocese de Belém. Em vídeo divulgado, o arcebispo negou o que chamou de falsas acusações de imoralidade.

“A notícia dos supostos abusos nos deixou surpresos”, disse o padre José Otácio Oliveira Guedes, reitor do Pontifício Colégio Pio Brasileiro, instituto mantido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em Roma e frequentado principalmente por clérigos brasileiros.

“Os comentários entre os que conhecem dom Alberto são de surpresa, devido ao seu importante histórico de atuação na Igreja Católica e ao seu comportamento sempre ilibado e cordial.”

Mesmo sem citar o caso específico, o reitor acredita que graças às regras introduzidas pelo Papa Francisco, os casos de pedofilia envolvendo religiosos poderão ser esclarecidos mais facilmente. “A minha percepção é que estas mudanças são iluminadoras, porque hoje a vítima tem chance de obter Justiça.”

“Uma destas novas regras prevê, por exemplo, o afastamento imediato do religioso quando a acusação de abuso sexual é feita por um menor de idade. Esta e outras medidas impedem a reincidência destes crimes que até então poderiam ocorrer devido à lentidão das investigações.”

E acrescentou: “Agora, as denúncias de abuso sexual devem ser comunicadas imediatamente ao bispo e à Congregação da Doutrina da Fé, que é o órgão competente para apuração destes casos”.

A Igreja Católica é alvo de milhares de denúncias em todo o mundo de abusos sexuais cometidos por padres e de acusações de acobertamento por parte da comunidade eclesiástica.

Quando virou papa, em 2013, Francisco pediu uma “ação decisiva” sobre o tema. E desde então, tem enfrentado sérias pressões para gerar soluções viáveis ​​para a crise que assolou a Igreja nos últimos anos.

Em agosto de 2018, o líder religioso escreveu a todos os católicos condenando o abuso sexual clerical e exigindo o fim do acobertamento.

E, no fim de 2019, decidiu abolir a vigência do chamado “segredo pontifício” em relação às denúncias de abusos de menores, em uma tentativa de dar mais transparência a esses casos.

A Igreja até então tratava oficialmente os casos de abuso sexual em sigilo, no que alegava ser um esforço para proteger a privacidade das vítimas e a reputação dos acusados.

Com informação BBC News Brasil

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