Com o PSL, o grupo de Lira se tornaria maior
Com a segunda maior bancada federal, o PSL enfrenta uma nova queda de braço interna que pode afetar a correlação de forças na disputa do comando da Câmara dos Deputados.
Com a ajuda de deputados dissidentes do partido, o líder do bloco do centrão, Arthur Lira (PP-AL), anunciou nesta terça-feira (19) que conseguiu mais quatro apoios dentro da bancada da sigla, garantindo o respaldo da maioria dos integrantes da legenda para que ela apoie a sua candidatura.
O partido, pelo qual o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se elegeu em 2018, havia anunciado no ano passado o apoio à candidatura do deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), candidato do atual chefe da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O acordo previa que o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar (PE), ocupasse o posto de vice-presidente ou de primeiro-secretário caso o emedebista vencesse a disputa.
Com os quatro apoios, Lira teria o endosso de 36 dos 52 deputados federais eleitos pela legenda. Com o número, o líder do centrão espera conseguir formalizar a adesão do partido ao seu bloco partidário na tentativa de impor uma derrota a Baleia. Na noite desta terça, o parlamentar entregou nova lista com as assinaturas à direção da Câmara.
Para analisar a questão, Maia marcou para o dia 27 reunião para decidir se acatará ou não a lista com as novas assinaturas.
Segundo deputados aliados, Maia tentará, até a data da reunião, reverter os novos apoios. O esforço deve contar também com a ajuda de Bivar, responsável pelo acordo que levou o PSL para o bloco de apoio a Baleia.
Na semana passada, Lira articulou uma lista com 32 assinaturas para que a sigla embarcasse oficialmente na sua candidatura –o apoio é importante para contar o número de deputados e garantir preferência em espaços na Mesa da Casa.
Em tese, por contemplar metade da bancada mais um, os deputados federais poderiam migrar para o grupo de Lira. Ocorre que uma parte deles está suspensa pelo partido.
Lira queria que, mesmo punidos, eles pudessem ser considerados para ingressar no bloco e alega que o presidente da Câmara aplicou uma punição monocrática e ilegal. Já os aliados de Maia entendiam que não.
O assunto foi questionado na Mesa, que se reuniu na segunda-feira (18), mas o debate foi adiado depois que Bivar pediu vista. Agora, com 36 apoios, aliados de Lira dizem que não há mais como a direção da Câmara rejeitar as assinaturas.
A tese é que, mesmo excluindo os deputados punidos, Lira teria o apoio de metade mais um do total de parlamentares que compõem a bancada e não sofreram sanções. Logo, com a assinatura da maioria, o partido seria obrigado a ingressar no bloco de apoio a Lira, mesmo com a direção da sigla contra essa decisão.
Dirigentes do PSL, porém, afirmam que Lira terá de refazer a lista de assinaturas porque não poderia simplesmente fazer um adendo à relação anterior de nomes.
Isso pode favorecer o PSL porque, segundo integrantes da sigla, há deputados federais que constam na lista anterior e decidiram remover suas assinaturas.
Além disso, haverá um trabalho da legenda para que parte dos parlamentares que apoiam Lira desista de chancelá-lo. Os deputados federais que estão com o líder do PP são majoritariamente apoiadores de Bolsonaro.
Há, porém, um grupo considerado rival do presidente que também embarcou na candidatura do representante do centrão. Dirigentes do PSL dizem que há deputados federais que traíram o partido após terem recebido fatia do fundo partidário durante a eleição municipal. Por isso, esperam que eles revejam a posição.
Caso a Mesa confirme a ida do PSL para o bloco de Lira, a vitória do líder do centrão na disputa legislativa é dada como praticamente certa tanto por seus aliados como por membros da campanha do adversário.
O líder do PP furaria um dos principais trunfos do seu adversário, que é ter um grande bloco de apoio, inclusive com a oposição, e garantir as principais escolhas na Mesa.
Com o PSL, o grupo de Lira se tornaria maior e poderia provocar um efeito manada, avaliam integrantes de ambas as campanhas.
A cúpula do Solidariedade, por exemplo, anunciou na segunda apoio a Baleia, mas há divisão na bancada –ao menos seis deputados cogitam votar em Lira. A aposta é a de que, com o PSL, haja uma pressão para que a legenda mude de posição e apoie a Lira.
Nesta terça, Lira comentou o assunto nas redes sociais. “Para dirimir qualquer dúvida e encerrar uma polêmica do Maia, nossa maioria no PSL aumentou de 32 para 36 assinaturas. Nós somos a maioria no PSL de 53 e maioria de 35”, escreveu.
A comissão de ética do PSL se reuniu nesta terça para avaliar pedidos de expulsão dos parlamentares que já estão suspensos e declararam apoio a Lira. A decisão, no entanto, foi adiada e só deverá ser tomada na semana que vem, depois que os parlamentares apresentarem suas defesas presencialmente.
A expulsão era uma alternativa estudada pela sigla para evitar a formalização do apoio do partido ao bloco de Lira. A outra alternativa seria Bivar adiar ao máximo a devolução do seu pedido de vista e evitar a análise dessa discussão pela Mesa, que tem maioria favorável a Lira.
Na segunda, por exemplo, por 4 votos a 3, parlamentares decidiram que a eleição será no dia 1º de fevereiro e presencial, ao contrário do que queria Maia.
A Câmara tem 513 deputados e nas últimas eleições a votação ocorreu dentro do plenário da Casa, que é um ambiente fechado a ventilação externa, sem janelas, propício para transmissão do coronavírus.
Para esta eleição, que ocorrerá em meio a nova alta de casos de Covid-19, parlamentares estudam colocar urnas no salão verde e outras salas e promover uma votação com horários pré-estabelecidos para grupos de deputados e no esquema “drive-thru”.