Coração pulsante em qualquer metrópole, o Centro jamais se permitiria a ter dono, senão a sua própria gente

Qualquer Centro de uma metrópole pertence a todos os moradores da cidade. Se existe um lugar onde a diversidade cultural é tolerada, onde os diferentes cultos religiosos se avizinham e se respeitam, onde as classes sociais interagem e a história do povo é contada nas praças e preservada em fachadas de prédios… esse lugar é o Centro.

Seja em Nova Iorque ou na modesta Aracaju, o Centro também antecipa os rumos da economia da cidade, assim como é largada obrigatória em períodos eleitorais. Discursos proferidos no início de campanhas políticas ganham bairros nobres e periferias, diante da grande circulação de seus moradores no Centro.

Mas o Centro de Fortaleza tombou…

Há algum tempo, uma facção criminosa tem demarcado perímetros no Centro como parte de seu território de atuação. Portas de comércios têm recebido iniciais da facção criminosa e a remoção não é permitida em nenhuma liquidação. É fatura obrigatória.

Por enquanto, o livre funcionamento das lojas e a tranquila circulação dos consumidores ainda estão na fase da promoção. Mas o aviso já está pregado sobre quem agora manda no pedaço. E mais um tributo deverá recair nas costas do comerciante.

Enquanto a inteligência policial e a estratégia governamental se valem do discurso de gabinete para justificar o avanço da criminalidade e apresentar sugestões políticas para Fortaleza, a facção se inseriu no Centro, por meio dos diferentes núcleos de pessoas em situação de rua, para a demarcação do que considera seu território.

A pouca circulação da população pelo Centro, nesse período de pandemia da Covid, por certo é uma aliada da criminalidade pela falta da ocupação dos espaços públicos por pessoas de bem. Mas obras que já deveriam estar em fase de conclusão, prontas para serem entregues com a retomada das atividades econômicas, crescente dia a dia, poderão retardar essa reocupação dos espaços públicos pela lentidão ou paralisação das máquinas.

Requalificada e bem protegida, a Praça José de Alencar é talvez o último reduto da autonomia governamental sobre o Centro. Mas, todos os dias, pessoas em situação de rua investem para ocupar o local. Não que necessitem do abrigo das frondosas árvores históricas. Tampouco o poder público trataria seus cidadãos como indesejados. É porque a criminalidade no Centro usa o cidadão mais vulnerável na estratégia do “insere para se inserir”.

Imponente, no alto da praça, em seus quase 100 anos de territorialidade, a estátua José de Alencar, diante da situação, certamente citaria uma das mais marcantes frases do escritor cearense: “Acordei sentindo saudade de casa, mas é estranho sentir saudade de casa quando se estiver em casa”.

Luiz Cláudio Ferreira Barbosa – Sociólogo e consultor político

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