O país deve enfrentar uma retração econômica no futuro próximo, o que deve dificultar ainda mais a relação com o eleitor em 2026
Ao buscar caminhos para lidar com a alta dos preços, especialmente os dos alimentos, o governo federal erra no diagnóstico e, consequentemente, na indicação do remédio para tratar do problema.
“Nota-se uma falta de diagnóstico para montar a estratégia econômica para ganhar a inflação”, pontuou Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV. Nos últimos meses, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem, repetidamente, apontado os alimentos dentre os principais culpados pela alta da inflação no país. Nesta sexta, o IPCA-15 (indicador tido como a prévia da inflação oficial) de janeiro registrou alta de 0,11% no mês.
Apesar de desacelerar ante dezembro, quando estava em 0,34%, o índice continuou sendo puxado por alimentos e bebidas, que subiram 1,06% em janeiro. Preocupado com a situação, o governo tem discutido medidas para conter o preço dos alimentos.
Mais cedo, após reunião para tratar do assunto, ministros de Estado apontaram a possibilidade de se derrubar alíquotas de importação para suavizar os valores cobrados no país. Fontes da área técnica da pasta da Agricultura afirmaram, porém, que a medida pode não ser tão eficiente.
Para o economista Roberto Padovani, o que seria muito mais simples do que repetir essa receita seria o Executivo sinalizar que vai fazer um controle das contas públicas. O impulso fiscal não só alimenta as pressões inflacionárias, como também o temor dos agentes econômicos. Os preços sobem então por duas frentes, uma mais direta e outra indireta, com a depreciação do câmbio e desancoragem das expectativas movidas pelos receios do mercado.
“A gente viu a situação do governo, ele enfrentando um problema e aumentando ainda mais o desafio”, pontuou Cristiano Noronha, cientista político e vice-presidente da Arko Advice. Noronha ressalta que, caso a situação seja prolongada, a inflação também vai manchar a imagem do governo. “A questão do preço dos alimentos afeta o eleitor mais tradicional do PT, o mais pobre.
O governo não vê que boa parte dessa questão de aumento de preços, que vem da alta do dólar, da falta de credibilidade da política econômica, o governo não para de sinalizar aumento de gastos”, avaliou o cientista político. Nesse sentido, Padovani e Noronha concordam em um diagnóstico: com os juros fortemente restritivos para conter a inflação, o país deve enfrentar uma retração econômica no futuro próximo, o que deve dificultar ainda mais a relação com o eleitor em 2026.