A bancada do partido de Lira não se sente contemplada com a nomeação de Flávia Arruda (PL-DF) para a Secretaria de Governo
A decisão do presidente Jair Bolsonaro de distribuir ministérios a nomes do PL, Republicanos e PSD provocou revolta na bancada do Progressistas. Deputados cobram do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), a abertura de espaços na equipe de Bolsonaro, e uma ala articula até mesmo a votação de projetos incômodos ao governo, que podem representar aumento de gastos, para mostrar o descontentamento.
A bancada do partido de Lira não se sente contemplada com a nomeação de Flávia Arruda (PL-DF) para a Secretaria de Governo. O partido, por enquanto, emplacou indicados apenas em cargos de segundo ou terceiro escalão, como no comando do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), autarquia cobiçada pelo orçamento na casa de R$ 1 bilhão.
O deputado Fausto Pinato (Progressistas-SP) escancarou o mal-estar nesta quarta-feira, 7, ao usar o tempo da liderança da legenda no Plenário para falar sobre três projetos de lei, de sua autoria, que podem dar dor de cabeça ao ministro da Economia, Paulo Guedes.
O projeto 1204/2021 estabelece, por exemplo, um imposto sobre renda e rendimentos de aplicações de fundos de investimentos fechados. Outro (87/2021) cria um programa excepcional de regularização tributária. Uma terceira proposta (1291/2021) permite, ainda, que os resultados positivos do Banco Central possam ser destinados ao Tesouro Nacional enquanto durar a pandemia de covid-19.
“Entendo que meu partido irá esticar a corda até onde for racionalmente possível”, disse Pinato ao Estadão. “Com a queda de popularidade (de Bolsonaro) e sem uma união racional e estratégica para ajudar o governo a melhorar sua popularidade, (o Progressistas) adotará uma linha independente, para deixar de ser a tropa de choque. É exatamente aí que mora o perigo de uma debandada do centro.”
Além da contrariedade com o Palácio do Planalto, um grupo de deputados do partido está frustrado com o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL). A entrada de Flávia Arruda no ministério que cuida da articulação do Planalto com o Congresso é atribuída a Lira, que também foi seu avalista na presidência da Comissão Mista de Orçamento. Na tentativa de acalmar os ânimos, Lira conversou com os colegas e prometeu levar as reivindicações ao Planalto. Afirmou, ainda, não ter sido ele o padrinho da indicação de Flávia – que é do PL – para o governo Bolsonaro.
Correligionários do deputado observaram, no entanto, que, além de ter apontado o nome de Flávia para presidir a Comissão Mista de Orçamento, ainda em 2020, Lira é próximo do líder do PL na Câmara, Wellington Roberto (PB).
A portas fechadas, deputados do Progressistas apresentaram várias queixas ao presidente da Câmara. Disseram, por exemplo, que o Centrão aparece como beneficiado na reforma da equipe de Bolsonaro sem que o Progressistas, principal partido do bloco liderado por Lira, tenha ocupado nenhum ministério.
Integrantes da legenda se sentem desprestigiados no episódio que levou à substituição do general Eduardo Pazuello pelo médico Marcelo Queiroga no comando do Ministério da Saúde. O Progressistas tentou emplacar no posto o deputado Luiz Antonio Teixeira (RJ), conhecido como Doutor Luizinho, e também endossou o nome da médica Ludhmila Hajjar. O primeiro foi ignorado por Bolsonaro e a segunda passou por um processo de “fritura”, deflagrado nas redes sociais pela base bolsonarista.
Outra demanda não atendida foi a recriação do Ministério do Esporte, que desde o governo de Michel Temer (MDB), em 2016, virou secretaria. A estrutura do Esporte está hoje vinculada ao Ministério da Cidadania, que é comandado por João Roma. Deputado licenciado, Roma é filiado ao Republicanos, partido que também integra o Centrão.
Em janeiro, Bolsonaro chegou a mencionar, durante cerimônia no Palácio do Planalto, que poderia recriar os ministérios do Esporte, da Cultura e da Pesca. O recado foi interpretado por aliados do governo como um sinal de que o presidente agiria assim em troca do apoio dos partidos à candidatura de Lira na Câmara e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no Senado.
Embora Lira e Pacheco tenham sido eleitos, em fevereiro, o discurso de Bolsonaro não saiu do papel. Para o Ministério do Esporte, a bancada do Progressistas planejava indicar a deputada Celina Leão (DF), que já ocupou a secretaria dessa área no governo do Distrito Federal. Celina foi uma das organizadoras da festa de comemoração de Lira quando ele venceu a disputa para a presidência da Câmara.
Líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), nega que haja mal-estar da bancada com a ascensão do PL, do Republicanos e do PSD no Planalto. “Estamos muito felizes com isso”, afirmou o deputado, sob o argumento de que Bolsonaro consolidou o chamado “presidencialismo de coalizão”. Além de Flávia (PL-DF) na Secretaria de Governo e de Roma (Republicanos-BA) em Cidadania, o deputado licenciado Fábio Faria (PSD-RN) está desde junho do ano passado no comando do Ministério das Comunicações.
“Não tem ciumeira entre partidos da base e nem essa intriga. Temos o presidente da Câmara, que é do Progressistas; o líder do governo, também. O líder do governo no Senado é do MDB; a ministra da Secretaria de Governo é do PL; o Fábio Faria é do PSD; o Roma é do Republicanos. Qual é o problema?”, questionou Barros. Procurados, Lira e o presidente nacional do Progressistas, senador Ciro Nogueira (PI), não se manifestaram.