Reeleito presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) diz que centrão não existe mais e base aliada reúne cerca de 400 deputados
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em entrevista ao GLOBO – Jorge William / Agência O Globo
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O senhor admite que era o favorito do Planalto?
Havia uma boa vontade, principalmente da equipe econômica, com a minha candidatura. Isso sempre reflete no Palácio do Planalto. As reformas econômicas são o alicerce do governo hoje. Então, na hora em que um presidente da Câmara tem isso como sua bandeira, é claro que há uma tranquilidade do governo.
O senhor teve embates com o líder do governo, André Moura (PSC-SE). Quem seria o líder ideal?
Meu líder ideal é a Gisele Bündchen (risos). Seria melhor um nome que estivesse afinado com o presidente da Câmara. André Moura, sem dúvida, não é. O líder do governo não foi imparcial nesse processo eleitoral, mas não fiz pressão para tirá-lo antes e não farei agora.
André Moura foi escolhido sob influência de Eduardo Cunha, cenário que mudou.
Não sei. Eu acho que eu produzo melhor com um líder mais afinado comigo. Não é o caso do André Moura. Mas é uma decisão do presidente, não tem problema nenhum. Como não teve problema quando eu fui convidado líder e, depois, desconvidado.
O que muda da sua gestão para a de Cunha?
A minha natureza é oposta. É uma pauta conservadora, mas sem excessos. Uma presidência de diálogo. Não vou tratar a pauta da Câmara numa relação de chantagem com o Executivo. O Eduardo Cunha fez chantagem: ou me dá a liderança do governo ou vai ter hostilidade. Esse tipo de ambiente não existe comigo. Significa que o presidente Michel Temer pode dormir tranquilo.
O que o senhor considera “conservador, mas sem excessos”?
Sou contra a legalização das drogas. Considero que a maioria das pessoas que usa uma droga mais pesada começa pela maconha. Não acho que isso vai resolver o problema da sociedade, ao contrário, vai ampliar. Prefiro que a gente tenha uma estratégia, como o Michel Temer fez agora com a criação do Ministério da Segurança Pública, para tratar efetivamente o tema. União homoafetiva, sou a favor, mas sou contra o casamento porque acho que é um falso embate. Casamento é um tema das igrejas, não da sociedade civil. O aborto, com as situações específicas já declaradas pelo Supremo, eu sou a favor.
O que acha da idade mínima?
Sou 100% a favor, eu vou ser afetado por ela, tenho menos de 50 anos. Todo mundo está vivendo mais, acho que há um gatilho interessante: se a expectativa de vida aumenta, aumenta a idade mínima. As pessoas vivem mais, têm que trabalhar mais. E do meu ponto de vista eu teria feito para os novos (contribuintes) um sistema no qual o recebimento futuro teria uma relação clara com aquilo que você contribuiu, gerando um valor mínimo. Mas foi feito de outra forma. Agora o que tem que fazer é o debate da transição. Os jovens não estão olhando para 65 anos.
A anistia ao caixa 2 volta à pauta?
Não volta porque não há maioria para tratar esse tema na Casa. Se tivesse, já teria sido tratado. Houve interesse de alguns parlamentares de separar o que era corrupção do que era caixa dois. Como não houve consenso sobre o texto, esse tema está fora da pauta.
Nem o projeto que criminaliza abuso de autoridade?
Não, porque é para quando o juiz comete crime. Nenhum juiz da Lava-Jato cometeu crime. Então, não tem relação uma coisa com a outra. É para o juiz que molestou a sua enteada não ser somente aposentado compulsoriamente.
O que muda na relação com o Senado com a eleição do Eunício?
O Renan foi um bom presidente do Senado, eu tenho uma relação ótima com ele, inclusive ele me ajudou muito na eleição para presidente da Câmara. O Eunício tem outro perfil, tenho uma boa relação com ele, mas sempre tive relação mais próxima com o Renan. Os botafoguenses (Maia e Renan) sempre se unem.
O senhor pretende disputar o governo do Rio em 2018?
Eu quero ser um bom presidente da Câmara. Sendo um bom presidente da Câmara, posso estar preparado para outros projetos. Governar o Rio, disputar eleições majoritárias como um todo. Não nego que seria bom ser governador do Rio. Se eu conseguir transformar a Câmara em protagonista das reformas, acho que eu vou ter cacife para muita coisa.
E Eduardo Paes seria seu adversário ao governo?
Não vou disputar com o Eduardo Paes, eu vou estar no mesmo campo dele. Já brigamos demais.