Sem consenso, deputados tentam, há semanas, construir um acordo para votar reforma
Líderes partidários avaliam que as propostas de reforma política em discussão na Câmara não sai do papel porque os deputados “legislam em causa própria” e, com isso, não conseguem um consenso em torno do tema.
Na madrugada de terça (19), o plenário da Câmara rejeitou alterar o atual sistema eleitoral para o “distritão” em 2018, e no “distrital misto” em 2022. A mudança, que valeria para a escolha de deputados e vereadores, foi negociada por meses e colocada em votação mesmo sem consenso entre as legendas.
“Ela [reforma política] não andou porque cada um legisla em causa própria, porque não há consenso e cada dia o desgaste é maior. Há um acerto entre líderes [para votar], mas não sei se mantem até o fim da noite. Aqui ninguém garante mais nada. Mais deputados vão se perdendo pelo caminho”, avaliou o líder do PSD, Marcos Montes (MG).
Vice-líder do governo, o deputado Beto Mansur (PRB-SP), reclamou que “não adianta líderes orientarem as bancadas”, se cada parlamentar “está votando com o seu pensamento, pensando na próxima eleição”.
O líder do bloco PTB, PROS, PSL, PRP, deputado Jovair Arantes (PTB/GO), disse que fica difícil para os deputados legislarem sobre algo que os afetará diretamente, porque muitos serão candidatos em 2018.
“Mudar o jogo durante a partida não é possível. Deveríamos pensar em uma reforma para 2024, 2026, uma reforma perene e consistente. Deixaram para cima da hora”, declarou.
‘Negligência’
Relatora da proposta que estabelece o fim das coligações e a cláusula de barreira para partidos terem acesso ao fundo partidário, a deputada Shéridan (PSDB-RR) disse que a Câmara está demonstrando “negligência com essa pauta”.
“A reforma política é uma pauta que o Brasil entende como adequada, é uma pauta positiva e que não tem avançado por falta de estabelecimento de prioridade”. “Talvez não seja a reforma ideal que a sociedade esperava, mas é a reforma possível de construir em um parlamento super pulverizado com vários partidos discutindo e com 513 deputado legislando em causa própria”, declarou a deputada Shéridan.
Shéridan explicou que, caso as propostas não avancem no Congresso, ela vai levar o relatório para o Supremo Tribunal Federal (STF), para que a Corte possa usá-lo como base para opinar sobre eventuais mudanças no sistema eleitoral.