Enquanto presidente negou que o amigo arrecadasse recursos, Gonçalo Torrealba disse que o PM aposentado pediu doação à campanha do emedebista
Em depoimento à Polícia Federal, dentro das investigações da operação Skala, o empresário Gonçalo Torrealba, um dos sócios do Grupo Libra, contradisse o presidente Michel Temer sobre o papel do coronel João Batista Lima Filho.
O policial militar aposentado foi um dos presos durante a operação, deflagrada em março último, e que apura a prática de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro.
Segundo as investigações, em troca de propina, Temer teria assinado decreto, em maio do ano passado, que ampliou de 25 para 35 anos os prazos dos contratos de concessão e arrendamento de empresas que atuam em portos, permitindo que eles possam ser prorrogados até o limite de 70 anos.
“O senhor João Batista me auxiliou em campanhas eleitorais, mas nunca atuou como arrecadador de recursos”, disse Temer, ao responder por escrito questionário da PF sobre o inquérito.
Já Torrealba, que mora nos Estados Unidos, afirmou em depoimento do dia 3 de abril, segundo o blog da Andréia Sadi, no portal G1, que recebeu um pedido do coronel Lima para doação à campanha de Temer “há mais de dez anos”.
O empresário ainda teria dito que “se encontrou mais algumas vezes com João Baptista até informar definitivamente que não poderia doar para Temer”. O motivo, ainda conforme o depoimento, seria que a Libra e os sócios contribuíam apenas com candidaturas majoritárias e partidos.
À época, Temer concorria a uma vaga na Câmara dos Deputados, ou seja, tratava-se de uma eleição proporcional.
Encontros
O empresário foi um dos alvos da operação Skala, mas não chegou a ser preso porque estava fora do país. Comprometeu-se, no entanto, a comparecer para prestar esclarecimentos, sempre que fosse acionado, durante as investigações.
Torrealba confirmou conhecer Temer há cerca de 15 anos. Disse que, como deputado, ele o recebia para ouvir demandas institucionais da área portuária. Gonçalo Torrealba também revelou ter recorrido ao coronel Lima para agendar encontro na Secretaria dos Portos.
“Gostaria de esclarecer que somente entrou em contato com João Baptista porque de fato tinha urgência em solucionar as pendências nas renovações, uma vez que havia prazo fatal de menos de um mês para seu encerramento”, afirmou o empresário no depoimento.
Ele negou irregularidades ou doações por meio de caixa dois, mas admitiu que o grupo Libra foi beneficiado pelo decreto dos portos.
Operação
Além do coronel Lima, outros amigos do presidente, a exemplo do advogado José Yunes e do ex-deputado Wagner Rossi, chegaram a ser detidos na operação Skala. No despacho que autorizou as prisões, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luis Roberto Barroso, relator do caso na Corte, considerou haver “indícios que demonstram a possibilidade de se estar diante de um esquema contínuo de concessão de benefícios públicos, em troca de recursos privados, para fins pessoais e eleitorais, que persistiria por mais de 20 anos no setor de portos, vindo até os dias de hoje”. Com informações: Notícias ao Minuto.