Ronaldo Fonseca causa mal-estar no comando dos órgãos, todos vinculados à Secretaria-Geral, que tentam resistir às demandas
No dia 20 de junho, a advogada Eveline Martins Brito foi exonerada do cargo de ouvidora da Presidência da República para dar lugar à teóloga Ivana Araújo Carvalho Gomes, ex-assessora parlamentar e sócia da JB Radiadores, empresa que presta serviços como regulagem de motor e troca de óleo.
A nomeação foi ato unilateral do novo ministro da Secretaria-Geral, o deputado licenciado e pastor da Assembleia de Deus Ronaldo Fonseca, que tem demonstrado apetite para nomear funcionários de seu antigo gabinete na Câmara -muitos ligados à igreja- para postos estratégicos no Planalto.
Desde que tomou posse como ministro, em maio, Fonseca pressiona para emplacar pelo menos seis nomes na cúpula da Secretaria de Programa de Parcerias de Investimentos, a PPI, dois na Secom (Secretaria de Comunicação Social) e cinco na SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), além da Secretaria de Controle Interno.
Os pedidos de Fonseca causaram mal-estar no comando dos órgãos, todos vinculados à Secretaria-Geral, que tentam resistir às demandas sob argumento de que os indicados pelo ministro não têm as qualificações necessárias para ocupar áreas técnicas.
No caso de Ivana, por exemplo, o currículo elenca, além da graduação em teologia, seu trabalho como assessora parlamentar de Fonseca na Câmara e cursos de computação, etiqueta pessoal e consultoria de imagem.
Inquirida sobre sua experiência como ouvidora, Ivana disse que no curso preparatório para concursos públicos em que trabalhou por nove anos havia “uma ouvidoria para ouvir as manifestações dos alunos”.
O secretário especial da PPI, Adalberto Santos Vasconcelos, colocou seu cargo à disposição ao saber que teria que entregar 6 dos 33 postos disponíveis aos apadrinhados do novo ministro.
Alegou que a pasta, com expectativa de gerar cerca de R$ 22 bilhões em receita com concessões este ano, seria desmantelada com as trocas -Fonseca pediu para indicar os cargos mais importantes da PPI, como o de secretário-adjunto, além de outros secretários e diretores.
A exemplo do chefe, os demais servidores da PPI também ameaçaram se demitir caso o novo ministro emplacasse seus apadrinhados. A reação deu certo e, por ora, nenhuma nomeação foi feita.
Já na Secom, Fonseca conseguiu indicar titulares de dois cargos e, na SAE, faturou dois dos cinco que havia pedido inicialmente.
As duas secretarias atendem diretamente ao presidente Temer e tentaram evitar as nomeações, justificando que os cargos estavam preenchidos por pessoas com requisitos não contemplados pelos novos ocupantes.
A expectativa do ministro, que disse aos secretários ter “compromissos sociais a cumprir” com as nomeações, era emplacar aliados em cargos de direção, com salários entre R$ 13 mil e R$ 16 mil.
Até agora, porém, foram cedidos postos de coordenação, chefia e assessoria, com vencimentos de R$ 9,9 mil.
De acordo com assessores, Temer ouviu reclamações e pediu que Fonseca fosse repreendido, assim como seu secretário-executivo, Pablo Tatim, pastor da Assembleia de Deus que tem intermediado os desejos do ministro.
Desde então, Fonseca tem tido problemas para remanejar servidores, e o andamento de projetos que dependem de seu aval administrativo tem sido dificultado. A retaliação tem causado lentidão no funcionamento da estrutura presidencial, de acordo com integrantes do Planalto.
Fonseca chegou para substituir Moreira Franco, deslocado para Minas e Energia em maio. Sua posse foi articulada para aproximar o governo da bancada evangélica.
OUTRO LADO
Fonseca afirmou em nota que, desde que tomou posse, “realizou nomeações estritamente dentro da lei e no uso regular das suas prerrogativas institucionais”. “Apenas 8 cargos de chefia e 15 de assessoria”, completou.
Auxiliares de Temer afirmam que mais pedidos ainda estão sendo processados e que o ministro precisou recuar de algumas indicações diante das reações negativas.
Sobre a nova ouvidora Ivana Gomes, afirmou que ela tem “longa experiência na área”, pelo seu trabalho na Câmara e “em uma instituição de ensino de grande porte”. Com informações da Folhapress.