Documentos mostram valores associados a funcionário ligado a ex-diretor da empresa preso

Papéis apreendidos em imóveis de investigados da construtora Camargo Corrêa em 2009 indicam repasses ao funcionário da Dersa Vicente Floriano de Lima, que é ligado ao ex-diretor da estatal Pedro da Silva, preso sob suspeita de corrupção nas obras do Rodoanel.

Levantamento da Folha de S.Paulo mostra que o servidor da Dersa tem patrimônio incompatível com a remuneração dele no órgão, de cerca de R$ 7.000.

A reportagem teve acesso ao material recolhido pela Polícia Federal no âmbito da Operação Castelo de Areia. As investigações da PF e do Ministério Público foram anuladas por decisão do STJ em 2011, por uma questão processual -começaram a partir de uma denúncia anônima.

Provas colhidas na operação, contudo, podem dar origem a novas investigações.

Em endereços do doleiro da empresa, Kurt Paul Pickel, a polícia encontrou registros de pagamento de março de 2009 nos quais havia a inscrição do nome “Vicente” e um número de telefone.

À época, a PF verificou que o telefone estava vinculado a uma mulher e um apartamento no Morumbi (zona sul da capital). Porém, com a anulação do caso, a polícia não prosseguiu na investigação.

A mulher é nora de Lima, também proprietário do imóvel no Morumbi.

Indagado pela reportagem, Lima reconheceu que a linha de telefone é de um plano familiar do qual ele faz parte -mas nega atos ilícitos.

Um dos registros apreendidos com o doleiro fazia menção ao pagamento de R$ 222 mil. Outro, uma planilha, ao valor de 101 mil -não é especificada a moeda- com data de 4 de março de 2009.

Em ambos, o nome Vicente é ligado ao apelido “camelo”. Em seu sistema de pagamentos, Pickel catalogava as pessoas que recebiam propinas com codinomes de animais.

Na casa de Pietro Giavina Bianchi, ex-diretor da Camargo Corrêa, a PF encontrou um pen drive com manuscritos digitalizados com registros sobre a obra do Rodoanel referentes ao mesmo período e também com o valor de R$ 222 mil. Em parte dessas anotações, há a inscrição do nome “Paulo Souza”.

Em março de 2009, na administração estadual de José Serra (PSDB), o diretor de Engenharia da Dersa era Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto.

Souza é suspeito de ter atuado ilegalmente como operador financeiro do PSDB e ter cometido crimes de corrupção. Ele nega ter praticado os delitos apontados pelo Ministério Público.

À época, o gerente do projeto do Rodoanel era Pedro da Silva, nomeado por Souza.

Silva foi detido no último dia 21 na Operação Pedra no Caminho da Polícia Federal e do Ministério Público, que apura crimes ligados ao projeto do trecho norte do Rodoanel. A defesa dele afirma que Silva não praticou ilicitudes.

Esse segmento do projeto começou em 2013, na gestão estadual do agora presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB).

De acordo com funcionários da Dersa ouvidos pela reportagem, Silva tem grande proximidade com Lima.

Essa proximidade é exibida nas redes sociais: em sua foto de perfil no Facebook, Lima está ao lado do ex-diretor. Os dois também são assessorados juridicamente pelo mesmo escritório de Jundiaí. Desde 1995, Lima é filiado ao PSDB de Juquitiba (SP).

De acordo com cartórios de São Paulo, ele possui 15 imóveis no estado, que correspondem a um patrimônio estimado em ao menos R$ 3 milhões.

Lima tem uma loja de material de construção avaliada em R$ 1,5 milhão, um apartamento no Morumbi no valor de R$ 300 mil, um apartamento em Santos avaliado em R$ 450 mil, uma casa em Juquitiba que colocou à venda por R$ 750 mil e outra em Peruíbe.

OUTRO LADO

O advogado de Vicente Floriano de Lima, Paulo André Ferreira Alves, afirma que “nenhum dos apontamentos [da reportagem] guarda relação com operação investigativa atual, bem como do passado”.

Segundo o advogado, Lima é funcionário de carreira da Dersa há mais de 40 anos e nunca estabeleceu relação próxima com os ex-diretores da estatal Paulo Vieira de Souza e Pedro da Silva. Teria mantido apenas ligações de subordinação com eles.

Quanto a seu patrimônio, o advogado diz que a licitude pode ser comprovada pelas declarações à Receita Federal.

Lima, também ouvido pela reportagem, afirma que além da remuneração da Dersa recebe recursos de aposentadoria e de aluguéis e obteve parte do patrimônio por meio de herança recebida após a morte de um avô e da mãe.

“Sou peão de obra, técnico de laboratório, botaram meu nome aí por engano. Não tenho nada com isso”, disse.

Em nota, a Camargo diz que “está comprometida em colaborar, de forma contínua, com as autoridades, em todas as instâncias adequadas”.

O advogado de Pedro da Silva, Cassio Cubero, afirma que não conhece os autos da Castelo de Areia e diz que seu cliente é conhecido no Dersa por ser um funcionário de carreira que cresceu dentro do órgão.

“Todos conhecem o seu Pedro porque ele é um cidadão que começou de baixo e chegou até a diretoria. Ele é respeitado por todos lá”, afirma.

A defesa de Paulo Vieira de Souza informou que não iria se manifestar. A reportagem não localizou Pietro Bianchi. Com informações da Folhapress.

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